Indiscritivi, num sei nem dize o que sinti ao verissu sô. baodemais.
Noite tranqüila, gostosa e uma manhã de muita chuva. Esperado!
A roupa limpinha e cheirosa era o prenúncio de que minha casa estava próxima.
Abri mão de ir para o Rio de Janeiro devido à chuva. Desta maneira de Vitória vim direto para Belo Horizonte.
Andar por Vitória é muito tranqüilo a cidade é bem sinalizada e foi fácil achar a BR 262. Então pega-se um trecho de serra muito bonito, as imagens das montanhas e da mata verdinha faz lembrar nossas montanhas e isso é um puta incentivo e renovo das forças para seguir caminho.
A 160 km de Vitória parei pela primeira vez para abastecer e descansar na cidade de Ibatiba. Estou tranqüilo na lanchonete do posto quando vejo passar 1, 2, 3, 4, 5 viaturas de polícia, daquelas camufladas. Viro para um grupo do meu lado e digo que o bicho ta pegando, na brincadeira.
Então fico sabendo que na noite anterior a polícia atirou num moleque de 10 anos acho, a população enfurecida começou a quebrar tudo, botar fogo em ônibus e a querer linchar os guardas.
A entrada delegacia fica de frente para BR e tinha gente lá pra burro, e um número ainda maior de policiais. Acelerei forte, hehehehe.
E no meio de uma parte muito bonita da estrada o que vejo:
DIVISA ESPÍRITO SANTO / MINAS GERAIS
Só mais 330 km e minha aventura terminaria. Estava muito incomodado de passar pela BR 381, principalmente por causa da chuva.
Então em Rio Casca resolvi seguir para Ponte Nova, Mariana, Ouro Preto e por fim Belo Horizonte.
Logo que cruzei a divisa, como que por milagre a chuva parou. O Espírito Santo estava há 4 dias com chuva constante e forte, o governo havia declarado estado de emergência. Realmente a situação era de calamidade. E eu já estava em BH há dois dias e assistia nos jornais que a chuva não tinha parado e a situação ficava pior.
Mas como disse em Minas só alegria. Conheço muito bem as estradas deste trecho e aí foi só curtir e rumar pra casa. Cheguei em Belo Horizonte no final da tarde, parei na Praça da Liberdade que além de referência para todos nós mineiros, pra mim representa muito na minha vida. Desde a minha infância tenho histórias ali.
Mas o que mais valeu neste momento foi o seu nome “Liberdade” tudo haver com minha aventura que chegava ao fim. Por 33 dias estive ao sabor do vento, seguindo meus instintos, conversando comigo mesmo e refletindo em tudo na minha vida. Passei perigos, corri riscos sim de vida, estive em lugares lindos, inesquecíveis (é tu mermo Maragogi). Conheci pessoas diferentes, fiz amigos e deixei saudades no caminho.
Mas tudo isso não representa o que senti ao ter o vento em meu rosto, aos diversos cheiros do percurso, da cana-de-açúcar, do mar, dos vôos dos pássaros que vez por outra me acompanharam, do silêncio da estrada, do ronquinho (rs) da moto.
Do rosto da gente sofrida do sertão, dos rios de terra rachada, das crianças que na estrada vendiam frutas, por vezes a se próprias.
Por ter realizado o sonho de conhecer o nordeste de moto, para sempre essas imagens ficaram na minha mente. Me lembro da época de assinante de Moto Show / Moto Sport que ficava sonhando um dia poder fazer isso. Imaginando que aqueles caras eram os verdadeiros heróis, vez por outra até confundindo-os com os cavaleiros dos filmes medievais. E para meu susto eu era um deles agora, e porque não? Chegar numa cidadezinha do interior do Brasil numa moto dessas, vestido dessa maneira é a mesma coisa, só que no século 21...rs. As pessoas por vezes gritavam de emoção ao me ver passar, outras se assustavam. Muitas paravam para olhar, poucas se atreviam a conversar. Mas todas, todas não escondiam no olhar a admiração e o desejo realizado de ver que aquilo que sonhavam podia ser feito. Poder sair pelo mundo, tendo apenas o mundo por referência.
Nestes dias acredito que nunca estive tão perto de Deus, afinal a quem agradecer se num dia de muita chuva ao pedir que ela desse um tempo, ver que ela parou até a minha chegada no ponto de destino. A quem agradecer se ao sair eu pedia para não andar na chuva, que ela chegasse antes de mim, ou depois que eu passe. E ao chegar descobrir que de onde eu vinha à chuva tinha chegado.
Agradecer isso ao acaso? Agradecer a uma coincidência? Somente a Jesus, mesmo porque todos os dias ele era meu parceiro. Todos os dias pedia a Ele que sentasse na minha garupa e me acompanhasse nessa aventura.
Então só posso agradecer a Ele por ter me proporcionado tudo isso, agradecer pela liberdade de poder conhecer todas essas maravilhas.
A viagem chegou ao fim, o sonho não. Ele agora é real, presente e vai continuar. Machu Picchu infelizmente não foi agora, não sei se ano que vem, mas em breve deixará de ser um sonho. A viagem não pode parar.
... Vá para a estrada em busca da aventura...
... Não Importa o que aconteça no caminho...
... Dispare todas as suas armas ao mesmo tempo e exploda espaço afora...
... Pegue o mundo num abraço carinhoso...
... Como um verdadeiro filho da natureza nós nascemos para ser selvagem...